Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que quase me deixa exausta. Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo. Eu sei chorar toda encolhida abraçando as pernas. Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, vísceras e falta de ar.

terça-feira, 11 de março de 2014

O Tabu da Menstruação




Uma situação pouco discutida no universo mágico é o tabu da menstruação. Na sociedade contemporânea, a menstruação ainda é vista com reservas. Uma mulher bem educada não pode falar sobre menstruação, cólicas menstruais, ovulação ou qualquer aspecto de seu aparelho reprodutivo - salvo entre outras mulheres. Esse "assunto feminino" deve ser banido para os banheiros femininos, rodas de amigas e consultórios ginecológicos - sempre com o absorvente usado devidamente escondido. Enquanto isso, os rapazes falam abertamente de sua ejaculação, disposição sexual, problemas intestinais, conquistas amorosas e largam camisinhas usadas em todos os lugares, numa forma explícita de demonstrar virilidade. Qual a diferença? A diferença está na regulação imposta sobre o corpo feminino, mais especificamente sobre sua capacidade de reprodução.


Há homens que se recusam a fazer sexo com uma mulher menstruada, definindo a menstruação como algo "sujo". Outros preferem a mulher menstruada, pensando nos incômodos da paternidade, mas estes são minoria absoluta. O que me espanta é ver a quantidade de mulheres que, negando o ciclo natural de seu próprio corpo, concordam que a menstruação é uma fonte de impureza. Vamos analisar o problema mais de perto, do ponto de vista mágico.


As formas de magia mais populares no Brasil utilizam a menstruação como um elemento mágico, sobretudo nas amarrações de amor. No neo paganismo, a menstruação é normalmente colocada como força original e primária da mulher. Mas há muitas outras culturas que veem a menstruação como algo impuro, como os ciganos, por exemplo. Outras celebram a menarca de suas filhas, o que foi interpretado pela teoria feminista como um indício de que o corpo da mulher é mais sagrado para essas culturas do que para a cultura ocidental. Este tipo de pensamento foi o que desenvolveu a ideia francamente abraçada - sobretudo nos EUA - de  utilizar o sagrado e o religioso como formas de transformação de nossas atitudes cotidianas. Um simples gesto, muitas vezes, muda toda uma visão de mundo.


Mary Douglas foi uma antropóloga que descreveu a associação que muitas culturas realizam entre a impureza e o perigo. Sendo impura, a menstruação ofereceria algum grau de perigo. Sendo uma fonte mágica primordial, a menstruação foi, um dia, considerada o poder original feminino. Alguns cultos a deusas específicas, tomados por sacerdotes, já que suas sacerdotisas foram banidas, trocaram o sangue menstrual pelo sangue sacrificial dos sacerdotes, como na circuncisão, na castração ou na amputação dos mamilos.
          O estabelecimento de uma nova ordem, com a dominação masculina e o desrespeito pelo feminino - que nem de longe é um problema exclusivo da "civilização judaico-cristã", visto não existir uma sociedade matriarcal na face do planeta - tornaram este poder sagrado perigoso e, consequentemente, impuro.




O que fazer para mudar essa visão, pelo menos dentro de nós? Como bruxa, poderia indicar um caminho mágico, mas usar magia não serve para nada se não transformar o mundo à nossa volta. A mudança deve antes ser interna. Como diziam as feministas, "o pessoal é político". Mudando nossas próprias atitudes e transformando as situações pessoais, nós também transformamos o mundo. Se você já se viu tratando a menstruação como algo impuro, pare, pense e reconsidere que tipo de ideologia está reproduzindo, às vezes, de forma inconsciente. Os corpos das mulheres são sagrados com todos os fluxos e humores eles contidos, assim como os corpos dos homens. Afinal, somos todos filhos dos deuses e os deuses não habitam apenas a alma.


A seguir, vou colocar algumas sugestões de rituais envolvendo esse tema, que, como podemos perceber, é muito importante para todas as mulheres, inclusive as bruxas, e como bruxas devemos nos colocar de forma respeitosa, reconhecer a sacralidade e nos conhecermos através do sangue menstrual e seu ciclo. Tomei como fonte o livro A Dança Cósmica das Feiticeiras, Starhawk, Ed. Nova Era. Fiz algumas adaptações, já que, na bruxaria, é comum e natural usar sangue menstrual, conhecido como sangue de lua, em rituais e feitiços, mas como algumas mulheres ainda não se sentem à vontade com isso, deixo para que cada uma escolha como quer trabalhar com o sangue menstrual. Se você não se incomodar com isso, colha seu sangue de forma direta, não o deixe passar pelo absorvente. Pode parecer difícil, ou incomodo, mas faz parte do conhecimento do seu fluxo e corpo, e você vai saber como fazer.


 

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