Na Wicca a Deusa é considerada como associada com a lua, misteriosa, suave e mutável. E naturalmente, o Deus é visto como o Sol, o fertilizador, o nutridor e protetor. Essas são as versões mais comuns de culto ao Casal Divino que encontramos em nossa religião.
O Deus é aquele que vive em função de seu povo. Ele renasce constantemente do útero da Deusa para originar aquele que o sucederá. Ele é o próprio sol, que morre a cada ano para dar descanso à terra e o pão que comeremos como uma celebração do seu sacrifício. Ele é a criança da promessa, que vem ao mundo para nos dar esperança de que tudo será melhor, de que o inverno cessará e de que a dor terá um fim.
É impossível não estabelecer um paralelo entre a temática solar do Deus pagão com o Deus cristão. E para os que estão começando na bruxaria, não é fácil desassociar as divindades.
Nosso Deus é sim um Deus de amor, de compaixão e de paz. Mas também é um guerreiro que caça para alimentar seu povo, o amante apaixonado, o senhor das florestas escuras e o guardião do portal do mundo dos mortos. E apesar de as temáticas entre nosso Deus e o Deus cristão serem semelhantes, elas são contraditórias em muitos pontos, principalmente quanto à sexualidade. Por isso dificilmente você verá bruxos cultuando o Deus cristão.
Entender o Deus é entender o sol e sua influência na nossa vida. Nosso Deus é alegre e célebre da vida. Ele é a dança, a música e a felicidade de se viver. Como o sol, que ilumina e aquece, o Deus traz seu poder fertilizador para nossas vidas e sua luz para clarear idéias e afastar nossos medos. Ele é o senhor do instinto animal e ao mesmo tempo o engenheiro do universo.
Ele é a própria luz que dá definição e clareza pras coisas, mas que também torna as sombras ainda mais visíveis e definidas. Por causa disso, o Deus é aquele que separa as coisas entre certo e errado, bem e mal, eu e você. Sob uma luz forte, tudo se define e tudo pode ser classificado. Sob a luz do sol, tudo pode ser entendido, medido e quantificado. Ele é a racionalidade e a busca por ela.
Apesar disso ele é o grande caçador que se desespera em não conseguir sustentar seu clã e prover sua família. E deixando de lado seus medos e seus anseios, ele se veste com peles e chifres do animal que caçará e penetra na manada sem ser percebido. Vestindo-se de sua presa, o caçador passa a ser também a caça. O Deus nos ensina que para termos sucesso em algo, precisamos antes de tudo nos tornar aquele algo. E isso naturalmente nos aproximará do nosso objetivo.
Ele é o senhor da sexualidade sagrada, do amor libertador e dos prazeres do corpo e da alma. Ele é a perda do controle, das amarras, do receio que nos prende aos nossos problemas. O Deus é libertador e ele vem mostrar que tudo é mais fácil, mais certo e mais suave quando paramos de lutar contra nós mesmos e aceitamos que algumas coisas só podem ser mudadas em seu tempo certo. Ele então é o Deus dos rios, que mostra como devemos nos entregar à corrente e esperar o momento de sairmos dela e voltarmos à terra firme.
O Deus é o juiz que vê o crime pelos olhos do condenado. Ele é o grande pai que sabe que precisa impor limites, caso contrário suas crianças nunca aprenderão que cada coisa tem seu tempo. Ele é o ditador de normas e o construtor de regras. O Deus sabe que se não houver ordem, nada pode crescer. E é por isso que ele é rigoroso, com o próprio sol, que sempre retorna mesmo depois do pior inverno. Mas ele também é o calor gostoso e aconchegante que nos aquece quando temos frio.
Nós, pagãos, não tememos nenhum aspecto de nosso Deus. Nós aprendemos a amá-lo e a respeitá-lo pelo o que ele é, por todas as suas faces. Não por que seremos castigados se não o fizermos, mas por que o sentimos como parte de nós. Como parte da criação.
Dentro da Tradição Caminhos das Sombras nós nos enfocamos em seu papel como o oposto complementar da Deusa, consorte amado e guardião. Juntos, Deus e Deusa são mais do que a soma das partes. E nos mostram isso ao criar tudo o que existe em uma dança sagrada de êxtase. Eles formam não apenas o casal sagrado, mas tudo o que existe e um dia existiu ou existirá.
Dylan Siegel
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